Aqui você vê as diferenças entre duas revisões dessa página.
Ambos lados da revisão anterior Revisão anterior | Próxima revisão Ambos lados da revisão seguinte | ||
ecovirt:roteiro:neutr:neutra_base [2016/10/26 20:18] prado [parametros simhub3] |
ecovirt:roteiro:neutr:neutra_base [2020/02/07 19:12] prado |
||
---|---|---|---|
Linha 1: | Linha 1: | ||
+ | BASE | ||
+ | |||
+ | ====== Teoria neutra da biodiversidade ====== | ||
+ | |||
+ | A Teoria Neutra é um modelo de processos estocásticos de nascimentos, mortes, especiações e migrações. As probabilidades de cada um destes eventos ocorrerem definem uma dinâmica surpreendente. A melhor maneira de entender isto é simular este processo, como faremos nos exercícios a seguir. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | |||
+ | |||
+ | ===== Preparação: entendendo caminhadas aleatórias ===== | ||
+ | |||
+ | {{http://imgs.xkcd.com/comics/im_so_random.png}} | ||
+ | |||
+ | A Teoria Neutra usa uma classe de modelos de dinâmica estocástica, chamada **caminhada aleatória de soma zero**. Por isso precisamos entender algumas propriedades importantes dessa dinâmica. | ||
+ | |||
+ | Faça os tutoriais de caminhadas aleatórias: | ||
+ | * [[ecovirt:roteiro:math:bebadorcmdr|O Bêbado e o Abismo]] | ||
+ | * [[ecovirt:roteiro:math:zerosumrcmdr|Um Joguinho Besta]] | ||
+ | |||
+ | Os conceitos apresentados nesses dois roteiros são centrais para o entendimento da Teoria Neutra. Quando estiver certo(a) de que os compreendeu, volte para cá. | ||
+ | |||
+ | ====== A Teoria passo a passo ====== | ||
+ | |||
+ | {{:ecovirt:roteiro:neutr4.jpeg?100 |}} | ||
+ | |||
+ | Agora que entendemos algumas propriedades básicas de cadeias Markovianas simples vamos construir o modelo estocástico da Teoria Neutra, passo a passo, usando funções do **EcoVirtual**. | ||
+ | |||
+ | ===== Dinâmica Local sem Migração ===== | ||
+ | |||
+ | Vamos começar com um modelo para a comunidade em um dado local, usando um jogo de soma zero, similar ao jogo de apostas do roteiro [[ecovirt:roteiro:math:zerosumr|de introdução a processos estocásticos]] que acabou de fazer((Deveria! Caso não tenha feito, retorne a ele)). As regras são: | ||
+ | - A comunidade tem um total fixo de indivíduos $J$ que não se altera. | ||
+ | - No início todas as populações têm o mesmo número de indivíduos $j$ sendo portanto $J= j \times S$ onde S = número de espécies((esta é uma regra da simulação, mas o resultados não sao afetados por diferenças nas abundâncias iniciais)) | ||
+ | - Um dos indivíduos é sorteado para morrer | ||
+ | - Em seguida, os indivíduos remanescentes são sorteados, para definir quem produzirá o filhote que ocupará o lugar do indivíduo morto. | ||
+ | |||
+ | ====== Parametros ====== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | com as seguintes opções: | ||
+ | |||
+ | ^ Opção ^ parâmetro ^ O que faz ^ | ||
+ | ^ Number of Species|S| número inicial de espécies| | ||
+ | ^ Individuals per Species|j| número inicial de indivíduos por espécies. Começamos com o mesmo número de indivíduos por espécie, portanto o tamanho da comunidade será $J=Sj$| | ||
+ | ^ Number of dead per cycle|D| número de mortes por ciclo ((que manteremos sempre em uma))| | ||
+ | ^ Cycles per simulation| cycle| número de ciclos por simulação| | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Simule uma comunidades com 100 espécies e 2 indivíduos por espécie: | ||
+ | |||
+ | <code> | ||
+ | S = 100 | ||
+ | j = 2 | ||
+ | </code> | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Repita algumas vezes. | ||
+ | O que acontece com o número de espécies com o passar do tempo? Verifique se isto muda aumentando o tamanho da comunidade, que é o produto $Sj$. Portanto basta manter o mesmo número de espécies e aumentar o número de indivíduos por espécie: | ||
+ | |||
+ | <code> | ||
+ | S= 100 | ||
+ | j = 2 a 12, a intervalos de 2 | ||
+ | </code> | ||
+ | |||
+ | Repita algumas vezes para cada valor. | ||
+ | |||
+ | ====== Incluindo Migrações ====== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | {{:ecovirt:roteiro:neutr5.jpg?200 |}} | ||
+ | Sabemos que as comunidades não são sistemas fechados. Então a chegada de migrantes pode compensar a perda de espécies que observamos na simulação anterior. Vamos supor, então, que há um reservatório externo de migrantes, que chamamos **metacomunidade**. Uma maneira bem simples de se fazer isto é supor uma **metacomunidade infinita**, com todas as espécies do início da simulação, nas proporções iniciais. Precisamos definir também a taxa de migração: ela será a probabilidade de um indivíduo morto na comunidade ser substituído por um propágulo vindo de fora, da metacomunidade. | ||
+ | |||
+ | |||
+ | |||
+ | ====== incluindo migrações cont ====== | ||
+ | |||
+ | Compare a dinâmica de número de espécies ao longo do tempo em comunidades sem migração, e com valores crescentes de taxa de migração. Para isso experimente valores de migração (''Immigration (m)'') de zero a 0,5. Em todos comece com uma comunidade com 100 espécies, com dois indivíduos por espécies (''Number of Species (S)'' = 100, ''Individuals per Species (j)'' = 2. Mantenha constante o número de ciclos em todas as simulações. Repita a simulação com os mesmos valores para avaliar se existe um padrão. | ||
+ | |||
+ | O que acontece se aumentamos o tamanho da comunidade? Experimente começar com 10 indivíduos por espécie. | ||
+ | |||
+ | ====== Uma Metacomunidade mais Realista ====== | ||
+ | |||
+ | {{ :ecovirt:roteiro:neutr6.jpg?350|}} | ||
+ | |||
+ | Um reservatório infinito de espécies não parece ser uma premissa muito realista. Que tal substituí-lo por um conjunto de populações com a mesma dinâmica que usamos para a comunidade? Teríamos, então, dois sistemas acoplados, cada um com sua dinâmica estocástica de nascimentos e mortes. | ||
+ | |||
+ | Mas se a metacomunidade também segue a dinâmica estocástica de soma zero, também perderá espécies com o tempo. Como resolver? Começamos por admitir que a metacomunidade é muito maior que a comunidade, pois representa o //pool// regional de colonizadores. Ou seja, é um sistema bem maior, pois tem mais espécies e indivíduos. Vamos supor, muito modestamente, que nela há o dobro de espécies da comunidade, cada uma com dez vezes mais indivíduos. | ||
+ | |||
+ | Apenas para lembrar o efeito do tamanho da comunidade sobre a erosão de espécies, use novamente a função de simulação sem migração para comparar sistemas que diferem nesta ordem de grandeza: | ||
+ | |||
+ | <code> | ||
+ | S = 100 | ||
+ | cycle = 20.000 | ||
+ | j = 2 e 20 | ||
+ | </code> | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Já é possível perceber que para tamanhos razoáveis (ou mesmo pequenos) de metacomunidades a erosão de espécies é bem lenta. Portanto, uma entrada de espécies a uma taxa também muito lenta já seria suficiente para compensar as extinções. Se for tão lenta quanto o tempo necessário para a evolução de uma nova espécie no sistema já temos a solução: na metacomunidade, as espécies perdidas são repostas por novas que surgem, no tempo evolutivo! | ||
+ | |||
+ | Assim, definimos uma taxa de especiação, $\nu$, que expressa a probabilidade de um indivíduo morto na metacomunidade ser reposto por um indivíduo de uma nova espécie. Esta taxa é extremamente baixa, mas pode ser suficiente para manter, ou mesmo elevar, o número de espécies na metacomunidade. | ||
+ | |||
+ | ====== parametros simhub3 ====== | ||
+ | |||
+ | |||
+ | Agora temos argumentos também para os parâmetros da metacomunidade: | ||
+ | ^ Opção ^ parametro ^ O que faz ^ | ||
+ | ^ Number of Species (Metacommunity)|Sm| número de espécies da metacomunidade^ | ||
+ | ^ Individuals per Species (Metacommunity)|jm| número de indivíduos por espécie na metacomunidade^ | ||
+ | ^ Speciation rate|nu| taxa de especiação na metacomunidade^ | ||
+ | ^ Migration rate|m| taxa de migração na metacomunidade^ | ||
+ | |||
+ | Usando os tamanhos de comunidades e metacomunidades que já definimos, avalie o efeito de aumentar a taxa de migração, mantendo os outros parâmetros constantes: | ||
+ | |||
+ | <code> | ||
+ | S = 100 | ||
+ | j = 2 | ||
+ | Sm = 200 | ||
+ | jm = 20 | ||
+ | nu 1e-9 | ||
+ | m = 0 a 0,4 a intervalos de 0,1 | ||
+ | </code> | ||
+ | |||
+ | Experimente também variar os tamanhos da comunidade e da metacomunidade, e a taxa de especiação. | ||
+ | |||
+ | Outra boa idéia é aumentar o tempo das simulações, para avaliar a dinâmica a longo prazo. Para isto, aumente o valor do argumento ''cycle'', mas lembre-se que com valores muito altos a simulação podem demorar. Tenha paciência ((boa hora para você fazer uma pausa))!! | ||
+ | |||
+ | <WRAP info center round 80% > | ||
+ | O modelo de Hubbell permite o cálculo do //**Número fundamental da biodiversidade**//, expresso por $\theta$ (theta) nos gráficos. Essa é uma medida da diversidade da metacomunidade (alfa de Fisher regional((alfa de Fisher é um índice de diversidade clássico baseado na distribuição logserie de abundância das espécies na comunidade ))) e está relacionada à taxa de especiação e ao tamanho da metacomunidade. | ||
+ | </WRAP> | ||
+ | |||
+ | |||
+ | ======Perguntas====== | ||
+ | |||
+ | * Em escala de tempo ecológico a metacomunidade desta simulação tem efeito muito diferente da metacomunidade fixa e infinita da simulação anterior? | ||
+ | * Qual o efeito de uma maior taxa de especiação na metacomunidade sobre a dinâmica da metacomunidade? | ||
+ | * O que acontece se a metacomunidade é muito pequena? | ||
+ | |||
+ | |||
+ | ====== Para saber mais ====== | ||
+ | |||
+ | ==== Introduções ==== | ||
+ | |||
+ | * Harpole, W. (2010) Neutral Theory of Species Diversity. [[http://www.nature.com/scitable/knowledge/library/neutral-theory-of-species-diversity-13259703|Nature Education Knowledge 3(10):60]]. //Ótima apresentação da teoria, do projeto [[http://www.nature.com/scitable|Scitable]]//. | ||
+ | * Cassemiro, F.A.S. & Padial, A.A. 2008. Teoria Neutra da Biodiversidade: aspectos teóricos, impacto na literatura e perspectivas. Oecologia Brasiliensis, 12 (4): 706-719 [[http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2883367|disponível online aqui]]. | ||
+ | * Alonso, D., R. S. Etienne, and A. J. Mckane 2006. The merits of neutral theory. Trends in Ecology & Evolution 21: 451-457. | ||
+ | * Um pacote em R para simulação e ajuste dos modelos de distribuição de espécies previstos pela teoria. **A introdução é uma excelente explicação da teoria**: | ||
+ | * Hankin, R. 2007. Introducing untb, an R Package For Simulating Ecological Drift Under the Unified Neutral Theory of Biodiversity. Journal of Statistical Software 22: 12 [[http://www.jstatsoft.org/v22/i12/]]. | ||
+ | |||
+ | ==== Mais avançadas ==== | ||
+ | |||
+ | * O livro (referência básica, mas nem sempre didática quanto ao modelo): | ||
+ | * Hubbell, S.P. (2001). The Unified Neutral Theory of Biodiversity and Biogeography. Princeton University Press. | ||
+ | * Rosindell, J., Hubbell, S. P. & Etienne, R. S. 2011. The Unified Neutral Theory of Biodiversity and Biogeography at Age Ten. Trends in Ecology & Evolution 26:340-348. Ótima revisão sobre o tema e seu impacto. | ||
+ | * Renshaw, E. 1991. Modelling biological populations in space and time Cambridge University Press. Excelente apresentação de dinâmicas estocásticas. | ||
+ | * Uma boa revisão da evidência empírica até a época, com comparações com outros modelos neutros: Brian J. McGill, Brian A. Maurer, Michael D. Weiser (2006) EMPIRICAL EVALUATION OF NEUTRAL THEORY. Ecology: Vol. 87, No. 6, pp. 1411-1423. | ||
+ | |||
+ | {{tag>RCMDR comunidades teoria_neutra}} | ||