A Teoria Neutra é um modelo de processos estocásticos de nascimentos, mortes, especiações e migrações. As probabilidades de cada um destes eventos ocorrerem definem uma dinâmica surpreendente. A melhor maneira de entender isto é simular este processo, como faremos nos exercícios a seguir.
A Teoria Neutra usa uma classe de modelos de dinâmica estocástica, chamada caminhada aleatória de soma zero. Por isso precisamos entender algumas propriedades importantes dessa dinâmica.
Faça os tutoriais de caminhadas aleatórias, indicados nos links abaixo. Os conceitos apresentados nesses dois roteiros são centrais para o entendimento da Teoria Neutra. Apenas siga com este roteiro quando estiver certo(a) de que compreendeu os roteiros a seguir:
Para prosseguir você deve ter o ambiente R com os pacotes Rcmdr e Ecovirtual instalados e carregados. Se você não tem e não sabe como ter, consulte a página de Instalação.
Caso já tenha o R e pacotes instalados
Carregue o pacote principal RcmdrPlugin.EcoVirtual pelo menu do R Pacotes > Carregar Pacotes, ou pela linha de comando com o código:
library("RcmdrPlugin.EcoVirtual")
Agora que entendemos algumas propriedades básicas de cadeias Markovianas simples vamos construir o modelo estocástico da Teoria Neutra, passo a passo, usando funções do EcoVirtual.
Vamos começar com um modelo para a comunidade em um dado local, usando um jogo de soma zero, similar ao jogo de apostas do roteiro de introdução a processos estocásticos que acabou de fazer1). As regras são:
Para simular este processo, temos mais uma super-função no EcoVirtual. Vá em EcoVirtual > Biogeograph Models > Neutral Simulation… A seguinte janela de menu se abrirá:
com as seguintes opções:
Opção | parâmetro | O que faz |
---|---|---|
Number of Species | S | número inicial de espécies |
Individuals per Species | j | número inicial de indivíduos por espécies. Começamos com o mesmo número de indivíduos por espécie, portanto o tamanho da comunidade será J=Sj |
Number of dead per cycle | D | número de mortes por ciclo 3) |
Cycles per simulation | cycle | número de ciclos por simulação |
Simule uma comunidades com 100 espécies e 2 indivíduos por espécie:
Quando você não quiser mais ver a animação da dinâmica da comunidade é só desmarcar a caixa “Show simulation frames”.
Repita algumas vezes. O que acontece com o número de espécies com o passar do tempo? Verifique se isto muda aumentando o tamanho da comunidade, que é o produto Sj. Portanto basta manter o mesmo número de espécies e aumentar o número de indivíduos por espécie:
Sabemos que as comunidades não são sistemas fechados. Então a chegada de migrantes pode compensar a perda de espécies que observamos na simulação anterior. Vamos supor, então, que há um reservatório externo de migrantes, que chamamos metacomunidade. Uma maneira bem simples de se fazer isto é supor uma metacomunidade infinita, com todas as espécies do início da simulação, nas proporções iniciais. Precisamos definir também a taxa de migração: ela será a probabilidade de um indivíduo morto na comunidade ser substituído por um propágulo vindo de fora, da metacomunidade.
Marque a opção 'Imigration' na janela da simulação de Neutral Model Simulation (a mesma da figura anterior) do menu EcoVirtual e clique em OK, janela abrirá a opção do valor de imigração:
Compare a dinâmica de número de espécies ao longo do tempo em comunidades sem migração, e com valores crescentes de taxa de migração. Para isso experimente valores de migração (Immigration (m)
) de zero a 0,5. Em todos comece com uma comunidade com 100 espécies, com dois indivíduos por espécies, e mantenha constante o número de ciclos em todas as simulações:
Um reservatório infinito de espécies não parece ser uma premissa muito realista. Que tal substituí-lo por um conjunto de populações com a mesma dinâmica que usamos para a comunidade? Teríamos, então, dois sistemas acoplados, cada um com sua dinâmica estocástica de nascimentos e mortes.
Mas se a metacomunidade também segue a dinâmica estocástica de soma zero, também perderá espécies com o tempo. Como resolver? Começamos por admitir que a metacomunidade é muito maior que a comunidade, pois representa o pool regional de colonizadores. Ou seja, é um sistema bem maior, pois tem mais espécies e indivíduos. Vamos supor, muito modestamente, que nela há o dobro de espécies da comunidade, cada uma com dez vezes mais indivíduos.
Apenas para lembrar o efeito do tamanho da comunidade sobre a erosão de espécies, use novamente a função de simulação sem migração para comparar sistemas que diferem nesta ordem de grandeza:
Já é possível perceber que para tamanhos razoáveis (ou mesmo pequenos) de metacomunidades a erosão de espécies é bem lenta. Portanto, uma entrada de espécies a uma taxa também muito lenta já seria suficiente para compensar as extinções. Se for tão lenta quanto o tempo necessário para a evolução de uma nova espécie no sistema já temos a solução: na metacomunidade, as espécies perdidas são repostas por novas que surgem, no tempo evolutivo!
Assim, definimos uma taxa de especiação, ν, que expressa a probabilidade de um indivíduo morto na metacomunidade ser reposto por um indivíduo de uma nova espécie. Esta taxa é extremamente baixa, mas pode ser suficiente para manter, ou mesmo elevar, o número de espécies na metacomunidade.
Vamos ver como isso é feito no EcoVirtual. Vá novamente ao submenu Biogeographical models do menu EcoVirtual e selecione Neutral Simulation. Na janela de opções aberta, selecione a opção imigration and speciation em seguida clique em OK.
Agora temos argumentos também para os parâmetros da metacomunidade:
Opção | parametro | O que faz |
---|---|---|
Number of Species (Metacommunity) | Sm | número de espécies da metacomunidade |
Individuals per Species (Metacommunity) | jm | número de indivíduos por espécie na metacomunidade |
Speciation rate | nu | taxa de especiação na metacomunidade |
Migration rate | m | taxa de migração na metacomunidade |
Usando os tamanhos de comunidades e metacomunidades que já definimos, avalie o efeito de aumentar a taxa de migração, mantendo os outros parâmetros constantes:
Experimente também variar os tamanhos da comunidade e da metacomunidade, e a taxa de especiação.
Outra boa idéia é aumentar o tempo das simulações, para avaliar a dinâmica a longo prazo. Para isto, aumente o valor do argumento cycle
, mas lembre-se que com valores muito altos a simulação podem demorar. Tenha paciência 4)!!
O modelo de Hubbell permite o cálculo do Número fundamental da biodiversidade, expresso por θ (theta) nos gráficos. Essa é uma medida da diversidade da metacomunidade (alfa de Fisher regional5)) e está relacionada à taxa de especiação e ao tamanho da metacomunidade.